Mar 8, 2008

Zé ninguém

Sentado ali, com um olhar perdido, uma barba crescida e um cabelo já branco. Ele ia. Ia sem dar bola pras pessoas que estavam ali em volta, se afastando, com medo, com nojo, com dó. Ia lutando pela vida, tentando um pouco de desatenção alheia. Entrou jogando no chão uma sacola cheia das latinhas que ele juntava pra trocar por dinheiro no final do mês. Dinheiro que ele usaria pra comer, pra viver, ou só sobreviver. Uma sobrevivência de angústia e solidão. E aquele olhar revelava tudo, todas as dores, as sofridões, a deselegâncias de uma vida perdida não se sabe em que momento. E ao mesmo tempo aquele olhar não trazia nada à tona. Não mostrava a escuridão de seus pensamentos e suas crenças tão insuperficiais.
E doeu olhar pr'aquela pessoa sem nome e sobrenome, e saber que ao mesmo tempo que eu e mais todo o resto daquele ônibus estaríamos entrando em casa, comendo uma janta repetitiva, tomando um banho quente e deitando num colchão delicioso e confortável, aquele homem, um zé ninguém, estaria procurando um cantinho de chão duro pra descansar o corpo cansado de sofrer.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Escrevemos DEUS Ó PAI!
"DEUS Ó PAI!"


amanda,
nao levo jeito!
AHUUAHHUAUHAUHA

vou ser medico mesmo!
mais um texto foda seu...
beijos...

(ah! escreve mais aqui!)

7:19 PM  
Anonymous Anonymous said...

É... e um dia você me ligou, no meio da tarde, angustiada, para saber se era "capitalista ou socialista"... taí a resposta... Bj

Melton

6:21 PM  

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