Mar 19, 2008

Viramundo.

Da menina que estava sentada não se sabia mais nada. Só chorava e ria num descontrole inigualável. Inabalável. De um sorriso matutino, cabelo preso no coque que ninguém entendia.
Inabalável.
Sorrindo parecia triste, ao passo que o choro era de visível alegria. Alegria não se sabe de onde. Não se sabe de quê. Feliz é só pra ser.
Momento que passa, passando pelos trejeitos de quem gosta. Gosta de sonhar, gosta de sentar, gosta de falar. Falar sobre nada, sobre o céu, sobre a grama, o livro, o riso.
O riso incontido, perdido em algum lugar? Não. Esse tava ali, achado. Rebuscado, cheio de dentes a mostra, misturado na água que caía do olho cor de mel. Por detrás dos óculos vermelhos, a felicidade, num descontrole inigualável.
Inabalável.

Mar 8, 2008

Zé ninguém

Sentado ali, com um olhar perdido, uma barba crescida e um cabelo já branco. Ele ia. Ia sem dar bola pras pessoas que estavam ali em volta, se afastando, com medo, com nojo, com dó. Ia lutando pela vida, tentando um pouco de desatenção alheia. Entrou jogando no chão uma sacola cheia das latinhas que ele juntava pra trocar por dinheiro no final do mês. Dinheiro que ele usaria pra comer, pra viver, ou só sobreviver. Uma sobrevivência de angústia e solidão. E aquele olhar revelava tudo, todas as dores, as sofridões, a deselegâncias de uma vida perdida não se sabe em que momento. E ao mesmo tempo aquele olhar não trazia nada à tona. Não mostrava a escuridão de seus pensamentos e suas crenças tão insuperficiais.
E doeu olhar pr'aquela pessoa sem nome e sobrenome, e saber que ao mesmo tempo que eu e mais todo o resto daquele ônibus estaríamos entrando em casa, comendo uma janta repetitiva, tomando um banho quente e deitando num colchão delicioso e confortável, aquele homem, um zé ninguém, estaria procurando um cantinho de chão duro pra descansar o corpo cansado de sofrer.