Apr 23, 2008

"- Me chamam de homem de vidro, mas meu nome é Raymund Dufayel.
- Eu sou Amelie Poulain, trabalho no...
- Deux Moulins. Eu sei.
- ...
- Gosto muito desse quadro.
- É o "Almoço dos Barqueiros". De Renoir. Faço um por ano, há vinte anos. O mais difícil são os olhares. Ás vezes tenho a impressão que mudam de propósito de humor assim que viro as costas.
- Agora parecem felizes da vida.
- ...
- Depois de tantos anos, o único personagem que não consegui captar é a moça com o copo de água. Ela esta no centro e no entanto, esta fora.
- Talvez seja diferente das outras.
- Em quê?
- Não sei.
- Quando era pequena, não devia brincar muito com outras crianças. Talvez nunca.
- ...
- Sabe a garota do copo de água?
- Sei.
- Se parece distante, talvez seja porque ela esta pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente a criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrario, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai por em ordem?
- Bom, é melhor cuidar da vida dos outros do que cuidar de um anão de jardim.
- ...
- Acho que fui muito duro com a garota do copo de água. Me conta: O garoto com quem ela cruzou, eles se reviram?
- Não. Eles não se interessam pelas mesmas coisas.
- Sabe, a sorte é como o Tour de France. Esperamos tanto e passa tão rápido. Quando chega a hora precisa saltar sem hesitar.
- ...
- Ela está apaixonada por ele?
- Está.
- Acho que está na hora de ela assumir o risco.
- Justamente. Ela está pensando em um estratagema...
- Ela gosta disso...estratagemas.
- Sim.
- Na verdade ela é um pouco covarde. Acho que é por isso que não consigo captar seu olhar."